quarta-feira, 13 de junho de 2012

UM SUJEITO INDETERMINADO


AULA DE PORTUGUÊS

A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender.
A linguagem na superfície estrelada de letras sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática esquipáticas atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


         Dizem que, quando se apela a um sujeito indeterminado, o sujeito é o próprio. Mas por necessidade de anonimato ou timidez ou mesmo covardia, o distinto se esconde nas mil e uma oportunidades que a Língua nos dá. Seria correto afirmar também que essas indeterminações do sujeito estão entre os temas preferidos que, dizem, brincam os professores de português amantes da gramática quando estão entediados. Sendo mais específico ainda, valem-se dos devaneios da sintaxe para mostrar que, além de dominarem as regras gramaticais, dominam também os desdobramentos das orações. Loucura maior ainda é não saber se a frase “Dizem que, quando se apela a...” tem um sujeito oculto, mas aí seria determinado, ou o sujeito é indeterminado ou ainda se a oração não tem sujeito. Vai alguém se sujeitar a isso... Contudo, tem gente que estuda e entende do assunto e sai por aí se ufanando. Tem gosto pra tudo nessa vida... Analogamente é o que fazem alguns músicos, cansados das notas mais simples e das estruturas musicais comportadinhas, abusam das dissonantes e torturam os meros mortais com suas improvisações por puro exibicionismo, a exemplo do jazzistas. Bem, deve ter gente à beça querendo a minha cabeça. Só falta falar mal dos muçulmanos e to ferrado de vez...


Mas vou esclarecer: Tenho verdadeira ojeriza à análise sintática. Já fico todo enrolado com o uso da crase, dos porquês, das concordâncias verbais e ainda tenho que lidar com isso, com as combinações de ordenação, dependência e concordância entre as palavras (copiei de uma gramática a procura de uma luz, mas a treva ficou ainda maior e lembrei melhor o que queria dizer com ojeriza). Continuando a explicação: Perdi um ano todo da minha vida (o ano era 1976) porque (junto, segundo a regra) não consegui colocar na cachola a tal da Análise Sintática. Bom, a indeterminação do sujeito faz parte da análise sintática, mas também saber se ele é ou não determinado é tão inútil quanto saber quantos grãos de arroz consumi no almoço. A função da Língua não é comunicar? Que serventia tem saber ainda mais, esmiuçar a frase, dar nomes aos que já nome tem, ou seja, adjetivar pedaço por pedaço uma oração? Fará isso com que alguém escreva, ou se comunique, melhor ou pior? Fiz essas perguntas em 76, sorte que para mim mesmo e pra professora Gládis que teve seu Chevette 75 rosa depredado por mim (foram só dois pneus furados). Sem saber por que, repeti a sexta série e não peguei nem exame, rodei por média. Naquela época andava empolgado com a matemática e física, queria ser matemático ou físico (óbvio), quem sabe engenheiro. E o tal Portuga me dizendo“pois, pois”...
Não é necessário “analisar” o que se passava nessa cabeçorra; achava infinitamente mais inútil o que qualifico hoje como inútil, um conhecimento que só encontra utilidade na cabeça dos exibidos e entediados de plantão, como um músico indo e vindo nas escalas musicais sem “tocar nada”.
- Toca uma música, pombas! E o cara faz que não é com ele...
Depois meu trauma esvaneceu-se, desiludi-me com as “exatas”, me apaixonei pela língua pátria e comecei a escrever; só não escrevo melhor porque continuo achando que essa coisa de “análise” é coisa pra maluco. Até o Drummond concorda comigo!

Abril / 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário