sábado, 23 de junho de 2012

MACHADO DE ASSIS E O REALISMO BRASILEIRO



A obra de Machado de Assis divide-se em duas fases. A primeira, romântica, mostra-se convencional, tanto no enredo quanto no estilo. De caráter sentimental, os conflitos dos personagens são superficiais, envolvendo, em geral, dinheiro, casamento e família, de acordo com o modelo do Romantismo. Na segunda fase, surge Brás Cubas... Mais a frente falaremos sobre a fase romântica de Machado de Assis. Por ora, ficamos com o romance que inaugurou o Realismo no Brasil.


MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS  

Memórias Póstumas de Brás Cubas é um marco divisor tanto de sua obra quanto da literatura brasileira, pois é este romance que dá início ao Realismo em nossas letras, sendo a mais radical experimentação da prosa brasileira até aquele momento. Machado de Assis é ousado ao apresentar um defunto como narrador e ao eliminar o sentimentalismo, o moralismo de fachada, o medo de escandalizar os preconceituosos e a ideia de que o amor sempre deve prevalecer. Além disso, inaugura a interlocução, ou a conversa com o leitor, rompe com a linearidade do enredo e escreve microcapítulos digressivos para comentar, explicar e exemplificar outros capítulos, fragmentando a narrativa tradicional. Suas inovações neste romance incluem até mesmo a disposição dos tipos nas páginas, em uma criação semelhante ao que décadas mais tarde faria o movimento concretista. 

RESUMO

Depois de um longo delírio, Brás Cubas, o narrador-personagem, morre, aos 64 anos. É então que começa a contar, de trás para a frente, a história de sua vida. Apresenta-se, portanto, como um “defunto autor” e não um “autor defunto”, pois a morte é o pré-requisito de sua narrativa, a qual por isso mesmo será franca, sem medo de ofender a sensibilidade e os padrões morais de sua época. O romance começa pelo funeral, vai daí ao nascimento, à infância e ao primeiro amor adolescente, aos 17, pela prostituta Marcela. Para “curar” essa paixão, o pai o envia para Coimbra, Portugal, em cuja tradicional Universidade, Brás Cubas se forma em Direito, apesar de ser um aluno medíocre. De Portugal retorna ao Brasil por ocasião da morte da mãe. A princípio namora Eugênia, filha de uma amiga pobre de sua família, mas o pai quer casá-lo, por interesse político, com a filha do conselheiro Dutra, chamada Virgília.Esta, apesar de corresponder ao interesse de Brás Cubas, acaba conquistada por Lobo Neves, com quem se casa, por nele ver perspectivas de ascensão social. Segue-se a morte do pai de Brás e um litígio entre este e sua irmã Sabina, casada com Cotrim, por conta da herança paterna. Anos mais tarde, Virgília e Brás Cubas se tornam amantes, encontrando-se em segredo numa casa que fica aos cuidados de dona Plácida, antiga conhecida de Virgília. Nesse meio tempo, o narrador-personagem reencontra um amigo de infância, Quincas Borba, mendigo e filósofo que desenvolve a doutrina do Humanitismo (e dará origem ao próximo romance de Machado de Assis, intitulado justamente“Quincas Borba”). O romance com Virgília evolui, cercado dos riscos inerentes a uma paixão adúltera. Seu ponto mais alto será a indesejada gravidez de Virgília, cujo filho, porém, nasce morto. A relação, então, se desgasta e Lobo Neves, nomeado presidente de província, parte com a mulher para o Norte, o que acaba definitivamente com o caso entre ela e Brás Cubas. Após um breve namoro com a sobrinha do cunhado Cotrim, Brás Cubas tenta, em vão, ser ministro de estado. Funda, a seguir, um jornal de oposição, mas jamais terá sucesso na política. O fim torna a se aproximar. Quincas Borba recebe uma herança e enriquece, mas é acometido de demência. Já idosa, Virgília pede a Brás Cubas que ampare dona Plácida, que se encontra numa condição miserável. Sobrevêm várias mortes: a de Lobo Neves, Marcela, Quincas Borba e da própria dona Plácida. Enquanto pensava em inventar um emplasto milagroso, que havia de torná-lo célebre, Brás Cubas sofre uma pneumonia. Acompanhada do filho de Lobo Neves, Virgília vem visitar o ex-amante. Considerando-se que o fim da história, isto é, a morte do protagonista, já foi narrada no início, o romance se encerra com um capítulo magistral em que Brás Cubas faz um balanço de sua vida. Eis um trecho de seu último parágrafo: “Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. [...] Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.



DOM CASMURRO 


Dom Casmurro é mais um romance da segunda fase de Machado de Assis. Tal como em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, o autor está preocupado em investigar a existência, apresentando situações-problema que contribuem para desvendar a alma humana. Dom Casmurro é a história de um suposto adultério, narrado de uma perspectiva suspeita, a do próprio marido, Bentinho, que viveu uma história de amor infeliz e com final trágico.
RESUMO
Bento de Albuquerque Santiago mora na rua de Matacavalos, com sua mãe viúva, D. Glória, a prima Justina, o tio Cosme e o agregado José Dias. Na casa ao lado, mora Capitolina (apelidada Capitu), filha de Pádua e Fortunata. Embora a família dela seja pobre e a dele rica, os dois são criados juntos. Quando o menino chega aos 15 anos e a menina aos 14, José Dias lembra a D. Glória a promessa que ela fizera de enviar o filho para o seminário. Essa é a forma que Dias encontra de alertá-la para um possível relacionamento amoroso entre os jovens, que, no entanto já estão apaixonados. No seminário Bentinho torna-se amigo de Escobar, outro seminarista sem vocação. Com a ajuda desse amigo e do próprio José Dias, o rapaz consegue demover sua mãe de seu desejo de torná-lo padre. Bentinho realiza seu desejo de ir para São Paulo onde se forma em Direito.
De volta ao Rio de Janeiro, casa-se afinal com Capitu e, Escobar, por sua vez, casa-se com uma amiga dela, Sancha, o que fortalece os laços entre os dois casais. No entanto, Bentinho e Capitu manifestam certo descontentamento por não terem filhos, o que ocorrerá apenas dois anos mais tarde, quando Capitu dá a luz um menino, batizado Ezequiel. No entanto, à medida que o menino cresce, Bentinho, que sempre fora ciumento e inseguro, só reconhece nele as feições de Escobar.
Quando Capitu chora em excesso no enterro de Escobar, que morre afogado, Bentinho fica completamente transtornado, pois vê naquele comportamento a prova cabal de suas suspeitas. Primeiro pensa em suicídio, depois em homicídio e, por fim, opta pela separação. Expulsa Capitu de casa, e a envia para a Suíça com Ezequiel, onde ela morre. Adulto, Ezequiel retorna ao Rio de Janeiro e Bentinho não vê no filho senão o retrato do amigo do seminário. Como era arqueólogo, Ezequiel em seguida viaja para o Egito e morre pouco depois em Jerusalém. Bentinho, solitário e magoado, preocupa-se com o passado e procura reinterpretá-lo construindo no Engenho Novo uma casa idêntica à de Matacavalos. Ali, começa a escrever a história de sua vida numa última tentativa de se convencer da traição da esposa e demonstrar ao mundo que não agira mal ao recusar Ezequiel.

UM SONETO PROPOSTO POR MACHADO DE ASSIS

“Esta sarna de escrever. quando pega aos cinquenta anos, não despega mais. Na mocidade é possível curar-se um homem dela; e sem ir mais longe, aqui mesmo, no seminário tive um companheiro que compôs versos, a maneira dos de Junqueira Freire, cujo livro de frade-poeta era recente. Ordenou-se; anos depois, encontrei-o no coro de São Pedro e pedi-lhe que me mostrasse os versos novos.
- Que versos – perguntou meio espantado.
- Os seus. Pois não se lembra que no seminário...
- Ah! – sorriu ele.
Sorriu e, continuando a procurar num livro aberto a hora em que deveria cantar no dia seguinte, confessou que não fizera mais versos depois de ordenado. Foram cócegas da mocidade; coçou-se, passou, estava bom. E falou-me em prosa de uma infinidade de coisas do dia, a vida cara, um sermão do Padre X... uma vigairaria mineira...” 
(Dom Casmurro – Capítulo LIV – Panegírico de Santa Mônica)

Durante a leitura de Dom Casmurro, no capítulo seguinte ao trecho sublinhado acima, Bentinho diz:
 - Também eu tive o meu panegírico, contarei a história de um soneto que nunca fiz; era no tempo do seminário, e o primeiro verso é o que ides ler:
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Bentinho fica impressionado com o verso que lhe saiu da cabeça durante a noite e decidiu-se por escrever com ele um soneto. Vale destacar a forma como ele fica impressionado com sua inspiração poética:
A insônia, musa de olhos arregalados, não me deixou dormir uma longa hora ou duas; as cócegas, pediam-me unhas, e eu coçava-me com alma.
Decide-se por ser poeta, antes, porém, teria que escrever o soneto (e o verso, nem verso era, era somente uma exclamação), “Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!”.
Sei bem eu que essas decisões tomadas em noites insones têm a força de uma noite. Mas Bentinho antes de ser poeta tinha uma aspiração: escrever o tal soneto a partir do verso composto. Quem era a flor? – pergunta-se Bentinho. Logicamente era Capitu. Mas o soneto não saía.
“Aguardei o resto, recitando sempre o verso, e deitado, ora sobre o lado direito, ora sobre o esquerdo; afinal deixei-me estar de costas, com os olhos no teto, mas nem assim vinha mais nada. Então, adverti que os sonetos mais gabados eram os que concluíam com chave de ouro, isto é, um desses versos capitais no sentido e na forma.”
 Resolve-se então compor o último verso, imaginando que tais chaves de ouro eram “fundidas antes da fechadura”. Depois de muito “suar” o tal décimo quarto verso saiu:
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!
Bem, para não alongar muito essa história, ao final ele havia composto o primeiro e último verso do soneto, que considerava, ia sair perfeito. Mas o tal do soneto não saiu. E o que ficou foi uma licença de Machado de Assis para que algum corajoso topasse o desafio e escrevesse os demais doze versos do soneto de Bentinho. Eu, num ataque de “humildade”, topei o desafio. Mais corajoso ainda é que vou publicar esse soneto aqui, nesta publicação sobre o magistral escritor que está em sua terceira postagem (Machado de Assis – O bruxo do Cosme Velho, ABL – A casa de Machado de Assis e agora Machado de Assis – Um pouco de sua obra).
Antes dessa aventura monumental de escrever em parceria com o mestre, tive eu também que perder horas de sono tentando encontrar inspiração para escrever o soneto. Uma audácia, mas estava ali e achei um despropósito deixar dois versos assim soltos no tempo. Existe agora um soneto, não sei se alguém mais se atreveu. Vamos lá, fechando os olhos...

Machadiana
Oh! Flor do céu! Oh! Flor, cândida e pura!
De estrelas ornas todo um céu, toda uma vida
Fazes do Eterno, esse olhar – quanta ternura,
E pleno de fé e Graça a obra de um lusíada. 

O bem excelso é saber-me teu, minha querida,
E mal maior não há nem persiste sobre a terra
Do que perder-te o amor, de ver-te esquecida,
É a morte, desvalida, é o que o inferno encerra. 

O lume somente das estrelas não te faz justiça,
O horizonte, o céu, a Casa etérea - alva e rutilante.
O tempo, em tua ausência, faz do amor, mortalha, 

E tudo finda, ali, naquele negro instante.
Dei-te tudo, minha Senhora, fica a palavra dita:
Ganha-se  a vida, perde-se a batalha!




QUINCAS BORBA – “AO VENCEDOR, AS BATATAS.”

 Em Quincas Borba, obra de 1891, Machado de Assis põe de lado a liberdade formal, que empregara em Memórias Póstumas de Brás Cubas, seu romance anterior, marco inicial do Realismo na literatura brasileira. Há, no entanto, um elo evidente entre os dois livros: o personagem Quincas Borba e o Humanitismo, a doutrina filosófica por ele desenvolvida em Memórias Póstumas.

RESUMO
Em Barbacena, Pedro Rubião de Alvarenga, ex-professor primário, torna-se enfermeiro e amigo do filósofo Quincas Borba. Cerca de seis meses mais tarde, este morre no Rio de Janeiro. Rubião é nomeado seu herdeiro universal, desde que concorde em cuidar de seu cachorro, que também se chama Quincas Borba, e no qual o filósofo acreditava sobreviver após a morte. Com a fortuna recebida, Rubião, megalomaníaco e ambicioso, resolve trocar a pacata vida provinciana pela agitação da corte, onde acredita que desfrutará de fama e status , e parte para o Rio. Na viagem de trem conhece o capitalista Cristiano de Almeida e Palha e sua esposa Sofia, cuja beleza o encanta. Ingenuamente fala sobre sua riqueza repentina e com isso desperta o olhar cobiçoso do marido, que logo oferece sua casa e sua ajuda durante a estada do mineiro na capital.
Extremamente ingênuo e influenciável, Rubião deixa-se guiar pela amabilidade do casal. Instala-se num palacete e passa a frequentar a casa de Cristiano, um parasita interesseiro e desonesto, a quem primeiro faz um empréstimo, mas depois confia cegamente a administração de todo seu dinheiro. Valendo-se dos encantos de Sofia, sua própria esposa, ambiciosa e de caráter ambivalente, Cristiano atrai a atenção de Rubião, o qual, com o tempo se apaixona por Sofia, que, ao mesmo que o encoraja, dispensando-lhe olhares e delicadezas insinuantes, impõe-lhe certa distância, sem contudo deixar de seduzi-lo implicitamente. Depois de muitos favores ao casal amigo, Rubião declara seu amor por Sofia, que o recusa e revela ao marido que foi cortejada. Cristiano, no entanto, não rompe relações com Rubião, porque pretende subtrair-lhe o restante da fortuna. Sofia, que até então apenas intuía sua condição de chamariz, daí em diante tem de desempenhar esse papel conscientemente. Interessados nos bens de Rubião também estão outros oportunistas, como o advogado e falso jornalista Camacho, que contribuem para seu empobrecimento gradual e absoluto. Já o amor não correspondido por Sofia aos poucos leva Rubião à loucura. Abandonado por todos que se aproveitaram dele, volta para Barbacena com Quincas Borba, o inseparável cão, seu único companheiro em toda a aventura no Rio de Janeiro. Depois de passar fome e frio, morre em casa da comadre Angélica, em seus delírios imaginando-se Napoleão III e pronunciando a máxima do filósofo Quincas Borba, que só agora ele consegue entender: “Ao vencedor, as batatas”.

INCONSTÂNCIA - FLORBELA ESPANCA

FLORBELA ESPANCA
Procurei o amor, que me mentiu. 
Pedi à vida mais do que ela dava; 
Eterna sonhadora edificava 
Meu castelo de luz que me caiu! 

Tanto clarão nas trevas refulgiu, 
E tanto beijo a boca me queimava! 
E era o sol que os longes deslumbrava 
Igual a tanto sol que me fugiu! 

Passei a vida a amar e a esquecer… 
Atrás do sol dum dia outro a aquecer 
As brumas dos atalhos por onde ando… 

E este amor que assim me vai fugindo 
É igual a outro amor que vai surgindo, 
Que há-de partir também… nem eu sei quando…

 A mensageira das violetas

sexta-feira, 22 de junho de 2012

ABL - A CASA DE MACHADO DE ASSIS

INAUGURAÇÃO DA ACADEMIA BRASILEIA DE LETRAS - 20/07/1897

Em 20 de julho de 1897, Machado de Assis, um dos mais importantes escritores brasileiros, fundava a Academia Brasileira de Letras (ABL), numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, no Rio de Janeiro. Desde então, a instituição tem como principal objetivo aprimorar métodos para o cultivo da língua e da literatura nacional. A iniciativa de criar uma entidade que reforçasse os princípios do idioma teve com modelo a Academia Francesa e foi idealizada por Lúcio Mendonça.
Segundo o site oficial da instituição, as primeiras notícias sobre a fundação e seus letrados foram publicadas a partir de 10 de novembro de 1896, na Gazeta de Notícias, e, no dia imediato, no Jornal do Commercio. As sessões preparatórias iam começar: na primeira, a 15 de dezembro, às três da tarde, na sala de redação da Revista Brasileira, na travessa o Ouvidor, nº 31, foi logo aclamado o primeiro presidente: o escritor Machado de Assis.
Em janeiro de 1897, foram convidados os letrados Araripe Júnior, Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay. Também Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães, que haviam comparecido às sessões anteriores. Ainda Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, conselheiro Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte, que aceitaram a honra e tornaram-se membros.
Os últimos dez membros foram eleitos. Eram eles: Aluísio Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domício da Gama, Eduardo Prado, Luís Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça.
Atualmente, a ABL mantém o mesmo formato com 40 membros efetivos e perpétuos, eleitos sempre em votação secreta, e 20 sócios correspondentes estrangeiros.



DISCURSO DE MACHADO DE ASSIS
20 de julho de 1897

Senhores,
Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É símbolo da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança.
Não é preciso definir esta instituição, iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloqüência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira.
Está aberta a sessão.



ESTE É VÍDEO COMEMORATIVO AO 114º ANIVERSÁRIO DA ABL.

JOSÉ SARAMAGO - DOIS ANOS SEM ELE



AUTOBIOGRAFIA

Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago... Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal.
Talvez por ter participado na Grande Guerra, em França, como soldado de artilharia, e conhecido outros ambientes, diferentes do viver da aldeia, meu pai decidiu, em 1924, deixar o trabalho do campo e trasladar-se com a família para Lisboa, onde começou a exercer a profissão de polícia de segurança pública, para a qual não se exigiam mais "habilitações literárias" (expressão comum então...) que ler, escrever e contar. Poucos meses depois de nos termos instalado na capital, morreria meu irmão Francisco, que era dois anos mais velho do que eu. Embora as condições em que vivíamos tivessem melhorado um pouco com a mudança, nunca viríamos a conhecer verdadeiro desafogo económico. Já eu tinha 13 ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e frequentemente prolongados, os períodos em que vivi na aldeia com os meus avós maternos, Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.
fjsFui bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano. Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos...) tesoureiro da associação académica... Entretanto, meus pais haviam chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de Português, pelo seu carácter "antológico", que me abriram as portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.
Quando casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu... A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.
Por motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador. No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade fjspermitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até 1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968, foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante , duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior. Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.
Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve, esses textos representam uma "leitura" bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe político-militar de 25 de daquele mês, que travou o processo revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director.
Sem emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar, tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976 instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão, em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca. Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa , 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.
Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos, minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano publiquei a peça In Nomine Dei, ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera Divara, com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster (Alemanha), em 1993. Não foi esta a minha primeira colaboração com Corghi: também é dele a música da ópera Blimunda, sobre o romance Memorial do Convento, estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os Nomes e O Conto da Ilha Desconhecida . Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.

Em consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas, sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas.
Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005), As Intermitências da Morte (2005) e As Pequenas Memórias (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: A Viagem do Elefante, um conto, uma narrativa, uma fábula.
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No ano de 2007 decidiu criar-se em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos, como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de 2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa, para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a intensificar e consolidar os objectivos a que se propôs na sua Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação cultural e propostas transformadoras da sociedade.
Nota - Depois de A Viagem do Elefante, José Saramago escreveu Caim e O Caderno I e O Caderno II, livros que não chegou a acrescentar à sua Autobiografia.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

MACHADO DE ASSIS - O BRUXO DO COSME VELHO

José Maria MACHADO DE ASSIS
Ao longo do tempo, Machado de Assis tem sido o escritor mais estudado da literatura brasileira. Embora ele tenha falecido há mais de cem anos, a sua obra continua fascinando as novas gerações, que leem seus livros como se eles tivessem sido publicados na véspera. Dono de um estilo inconfundível e admirável, Joaquim Maria chega ao século XXI mais atual do que nunca. Odiado por uns e amado por muitos, o autor de Dom Casmurro permanece quase como um “acidente” em nossa literatura. De origem muito humilde, “obscuro, artista anônimo, tipógrafo, depois revisor de provas, depois noticiarista, depois cronista, folhetinista e poeta, depois chefe incontestado da literatura brasileira. Apenas isto: uma reputação nacional, feita a pouco e pouco, passo a passo, dia a dia, na modéstia, na perseverança e no trabalho para o pão de cada dia, e no estudo e no esforço nobre para conquista do saber e da glória”. Assim Lúcio de Mendonça descreve o amigo, defendendo-o contra acusações de Diocleciano Mártir, que denunciou Machado como um dos inimigos da República! São casos como este e muitas outras anedotas e curiosidades ligadas ao “bruxo do Cosme Velho” que o autor nos revela neste livro delicioso, escrito numa linguagem simples e agradável, indispensável não só a estudantes de Letras, mas a todos interessados na obra do grande mestre. Enfim, acabamos descobrindo uma nova face do escritor que diziam viver escondido como um caramujo: um homem apaixonado pela vida, pelos seus semelhantes e pelo seu tempo.


 (Sinopse do livro Memorial do Bruxo - Conhecendo Machado de Assis, de José Antonio Martino)





Há pouco escrevi sobre a vida e a obra de Virgínia Woolf, escritora inglesa de enorme prestígio e sucesso e consegui esboçar-lhe o perfil intercalando sua vida e obra. Não li nada dela que não fosse o estritamente necessário para, como disse, traçar-lhe o perfil, incentivando assim o leitor do blog a lê-la. Fiz isso baseando-me exclusivamente em um filme que vi em 2002 e dos resumos que coletei aqui e ali. Já com Machado de Assis a história é outra. Na minha juventude, não muito distante, li A Mão e a Luva. Depois, nada mais. Esse romance, o segundo dele, escrito em 1874, dois anos após Ressureição, tinha-me deixado na memória a semente da poética romântica, do lirismo contido nos personagens românticos do Século XIX, mesmo sem ter-me dado conta disso. Aos púberes quatorze anos, não tinha senão arroubos de grandeza e força e todos os meus esforços estavam a serviço de impressionar o sexo oposto; sabia que essa história de sentimento e sensibilidade traría-me apenas dissabores. Mas era um romântico em potencial naquela época e esse livro ficou gravado como a representação do tipo de homem que queria ser: educado, honrado, sensível, dedicado ao sentimento e ao amor. Era toda aquela aura primorosa do cavalheirismo romântico que o continha que me seduzia. E estava presente em A Mão e a Luva. Trinta e dois anos mais tarde, essa verve romanesca se manifestou. Ao ler Goethe, desencadeou-se tudo isso. Então, Machado de Assis foi o primeiro.
Obviamente, para quem conhece um pouco da história da literatura, sabe que A Mão e a Luva pertence à primeira fase de Machado de Assis, que mais tarde seria influenciado pelo que os críticos definem como a fase parnasiano-realista. Não vou castigar o leitor com mais uma biografia, apenas destaco como a crítica o definia, uma razoável ideia de como era o "homem" e  "escritor" Machado de Assis.


Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

Então, amados leitores, para poupá-los de muita leitura, deixo-os com três vídeos sobre a obra e vida de Machado de Assis e ao largo sua biografia, caso a queiram ler. Mais além, alguns trechos de seus mais importantes romances, ao meu gosto, pois é muito difícil selecionar o que escreveu e uma audácia desses que vos escreve, um soneto meu em parceria com o Machadinho. O documentário foi veiculado pela TV Senado. Assistam aos três episódios:
UM DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA DO BRUXO











DO MORRO DO LIVRAMENTO À PRESIDÊNCIA DA ABL

Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando. Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade Lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.

Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada (onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.

Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.

Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.
Carolina Augusta Xavier

Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.

Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.

Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.

No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.


Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original, pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas - que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Machado de Assis (2º da esq. sentado) e os Imortais da ABL
Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a ideia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a ideia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.
Academia Brasileira de Letras
É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.



Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.


terça-feira, 19 de junho de 2012

ENCONTRO MARCADO COM VIRGÍNIA WOOLF

Virgínia Woolf
Já havia marcado esse encontro. Sentei-me à janela. Uma árvore em frente à casa quase desfolhou-se toda essa madrugada; lembrou meu compulsivo e inútil trabalho da tarde de ontem quando em vão recolhia uma folha enquanto caiam outras tantas da galharia e resolveu zombar de mim ainda mais, ela que logo estará como a amendoeira de Rubem Braga ( "no momento está sem folhas, e sua galhada nua se desenha no céu feio."  (O Homem Rouco, p. 25). E, na chuva torrencial que atravessou a noite, cobriu o pátio de um tapete âmbar, pintando sua tela com a própria seiva. Estou sentado à olhá-la através da vidraça. Faz um ano que está comigo. Vi-a nua em julho passado; despe-se novamente agora. Brevemente essa visão será apenas um retrato, embaçado, uma imagem difusa das horas que aqui estive. Horas de alguma alegria, é verdade, quando o amor nessa casa reinava. Horas de angústia e tristeza, quando, inclemente, ausentou-se. Momentos, tempo, horas. Horas!?  Lembram? O encontro marcado com Virgínia Woolf? Envolvi-a em uma trama surreal: ela, Florbela Espanca e Shakespeare. Não contente, ainda prometi que escreveria particularmente sobre sua obra. As horas, pois sim! Postei pela manhã no Facebook o vídeo do filme baseado no livro de Michael Cunningham que se chama "As Horas", onde Nicole Kidman interpreta o papel de Virgínia Woolf. Kidman foi premiada com um Oscar por seu retrato da escritora britânica. Através deste filme, já há algum tempo, entrei em contato pela primeira vez com a história de Woolf. No meu inconsciente ficara gravado a vontade de escrever um dia sobre sua vida marcante. Chegou a Hora!



The Voyage Out
Virginia Adeline StephenWoolf (Londres, 25 de Janeiro de 1882 — Lewes, 28 de Março de 1941) foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das mais proeminentes figuras do modernismo, movimento que permeou as artes na primeira metade do Século XX.  Ela era membro do Grupo de Bloomsbury, um grupo de artistas e intelectuais britânicos que existiu entre 1905 até o fim da II Guerra Mundial. Quase tudo o que diz respeito a esse grupo é matéria de controvérsias, desde a sua composição até seu nome. Atualmente, entretanto, parece claro que, na origem, dele participaram os romancistas e ensaístas Virginia Woolf, E. M. Forster e Mary (Molly) MacCarthy, o biógrafo e ensaísta Lytton Strachey, o economista John Maynard Keynes, os pintores Duncan Grant, Vanessa Bell e Roger Fry, o crítico literário Desmond MacCarthy, o crítico de arte Clive Bell e o jornalista Leonard Woolf, com quem a escritora foi casada até sua morte em 1941.
Virgínia Woolf desempenhava um papel de significância dentro da sociedade literária londrina durante o período entreguerras. Seus trabalhos mais famosos incluem os romances Mrs Dalloway (1925), Passeio ao Farol (1927) e Orlando (1928), bem como o livro-ensaio Um Quarto Só Para Si (1929), onde encontra-se a famosa citação "Uma mulher deve ter dinheiro e um quarto próprio se ela quiser escrever ficção". Sua primeira obra foi The Voyage Out, publicada em 1915. O romance Mrs. Dalloway ficou conhecido pelo filme As Horas,  já citado como precursor deste "ensaio" . As Horas conta várias histórias, mescla a vida da própria autora numa personagem e coloca algumas particularidades de Mrs. Dalloway numa dessas histórias. Em Mrs. Dalloway, Virginia descreve um único dia da personagem, quando ela prepara uma festa. 
Então, em linhas gerais, esse seria um breve resumo da vida da escritora e sua obra. Mas, meu interesse não é publicar tão-somente uma biografia de Woolf, pois ela já existe publicada, até porque as biografias tendem a ser entediantes e meu objetivo não é entediar ninguém. Quero é trazer à luz o que teve ou deixou para o mundo de interessante e ela, com certeza, era uma mulher interessante - interessantíssima -, ainda mais, pode-se abusar dos superlativos: era inteligentíssima! E para analisar uma pessoa assim, corre-se o risco de não compreendê-la completamente, porque em sua essência Virgínia não era comum. E nós, mundanos, somos. Daí a necessidade de que não a julguemos sob a ótica dos valores que nós, comuns, fomos ensinados a cultuar.Vamos é ver o que de herança Virgínia Woolf deixou, tão-somente...
Orlando e Vita Sackville-West
Sua obra mais conhecida é Orlando, publicada em 1928. É uma fantasia histórica sobre o período elisabetano. O Período Elisabetano ou Período Isabelino é o período associado ao reino da rainha Isabel ou Elizabeth I (1558-1603) e considerado frequentemente uma era dourada da história inglesa. Esta época corresponde ao ápice da renascença inglesa, na qual se viu florescer a literatura e a poesia do país. Este foi também o tempo durante o qual o teatro elizabetano cresceu e Shakespeare, entre outros, escreveu peças que rompiam com o estilo a que a Inglaterra estava acostumada. Quem? Shakespeare! Ele mesmo.
Orlando (no original em inglês, Orlando: A Biography) é uma novela semi-biográfica baseada em parte na vida da amiga íntima de Woolf, Vita Sackville-West. O romance é considerado um dos mais acessíveis de Woolf.  É a história de um jovem inglês que nasce na Inglaterra da Idade Moderna e, durante uma estada na Turquia, simplesmente acorda mulher. A personagem é dotada de imortalidade e o livro acompanha Orlando por seus 350 anos de vida. Bem-humorado, é um dos grandes exemplares do modernismo inglês e um dos ápices da arte literária de Virginia Woolf.
Assim define o romance o poeta catarinense Enzo Potel: "Para alguns, o livro mais atual de Woolf. Para outros, a ovelha negra de sua produção. Entre ambas as opiniões, a certeza de que Orlando é uma fresta notável dentro da obra total da autora. Uma biografia inventada, sorvida e dedicada à existência da Vita Sackville-West, sua andrógina amante..." Virgínia conheceu a poetisa, romancista e renomada paisagista Victoria Sackville-West – Vita – em 1919, e logo se tornaram grandes amigas. O envolvimento amoroso ocorreu seis anos depois que se conheceram e durou aproximadamente dois anos (mesmo assim, permaneceram amigas até a morte de Virginia). Vita era casada com Sir Harold Nicolson, também bissexual, e teve com ele um longo e bem-sucedido casamento aberto.
As Ondas e o cachorro Flush
As ondas é talvez o divisor de águas de Virginia Woolf. Com ele, a escritora abandonou todas as trivialidades, tudo aquilo que não era necessário, e deixou apenas a poesia e o sentimento pulsantes, justamente o que prende o leitor do início ao fim da obra. Um romance marcado por forte introspecção, sem argumento definido, sem conversa, sem ação. Ele é todo escrito como discurso direto de seis personagens - Bernard, Neville, Louis, Jinny, Susan, Rhoda - que falam das suas inquietações, seus sentimentos escondidos. O sol nasce e se põe e, em paralelo ao seu trajeto, nasce e se põe também a vida humana, a cada dia, a cada suspiro, a cada convicção jogada fora.
Após terminar As Ondas, em 1931, Virginia Woolf estava exausta. Ela seguiu então para a sua casa de campo levando o livro das cartas entre os poetas Elizabeth Barrett e Robert Browning. Na leitura, percebeu a presença permanente de um cachorro; resolve então, por diversão, escrever a visão desse cachorro do mundo à sua volta. Essa obra foi muito elogiada por fazer um relato minucioso sobre a época dos dois poetas. Ironicamente foi a obra que mais deu retorno financeiro à escritora e a mais traduzida em outros idiomas. A obra é a "biografia" de um cão que teria pertencido à Elizabeth Barrett Browning. Mostra as aventuras e os mistérios da existência percebidos através dos olhos do melhor amigo do homem. O personagem central dessa história é um cocker spaniel de origem inglesa, Flush. Veja uma passagem em que fala de Flush:
" (...) Em pleno processo de apreensão do mundo e de si mesmo, ele ama tanto os raios de sol quanto um pedaço de rosbife, a companhia de cadelinhas malhadas assim como a companhia de seres humanos, o cheiro de campos abertos tanto quanto ruas cimentadas e o burburinho da cidade..."
Na obra, iniciada com o objetivo de distrair-se após um período exaustivo, a escritora não deixa de tecer comentários críticos sobre a sociedade inglesa e vitoriana e seus valores. 
Virgínia Woolf (Nicole Kidman)
Mistress Dalloway

A obra de Woolf é extensa. Com o destaque de Mrs. Dalloway para encerrar, creio que dou ao leitor uma ideia bem razoável sobre quem era Virgínia Woolf; não quero matar-lhes a curiosidade. Assim que é bom mesmo: Deixar o gosto por mais.
Mrs Dalloway foi publicado em 1925. É uma das obras mais conhecidas da autora. Em 2005, foi escolhido pela revista Time como um dos cem melhores romances em língua inglesa de 1923 até o presente. Mrs Dalloway conta a história de um dia na vida de Clarissa Dalloway no período pós-Primeira Guerra Mundial, na Inglaterra. Criado a partir de dois contos, "Mrs. Dalloway em Bond Street" e o inacabado "O primeiro-ministro", o livro trata dos preparativos para uma festa da qual Clarissa é anfitriã. A história viaja para a frente e para trás no tempo e se desenvolve dentro e fora da mente das personagens para construir uma imagem da vida de Clarissa. Como já destaquei no início da publicação, o romance da escritora Virgínia Woolf serviu como palco para o romance As Horas, de Michael Cunningham, e o livro serviu como base para As Horas, o filme, um longa-metragem anglo - americano de 2002, dirigido por Stephen Daldry, e que rendeu à Virgínia o conhecimento que lhe faltava entre o grande público. Inclusive eu, que conhecia a escritora inglesa só de nome, fiquei impressionado com a representação da escritora protagonizado pela atriz Nicole Kidman.
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro Mrs. Dalloway. Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e ideias de suicídio. Em 1951 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com AIDS e morrendo. 
Espero que os tenha dado uma ideia de quem foi a genial Virgínia, uma mulher de personalidade marcante que produziu obras importantes durante a conturbada primeira metade do Século XX. Conturbada também foi a sua vida, como é comumente a vida de pessoas excepcionais. E dessa incompreensível excepcionalidade produziu para o mundo esse legado admirável, indelével, impressionante que me permiti repassar.  
No dia 28 de Março de 1941, após ter um colapso nervoso Virgínia suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril. Antes, escreveu ao marido, Leonardo Woolf, um carta de despedida onde explica sua decisão de desistir da vida.

 Querido,
 Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
V.

A sua última obra foi Entre os atos, publicada em 1941, posterior à sua morte.





Bibliografia de Virgínia Woolf:
The Voyage Out (1915), Night and Day (1919), Jacob's Room (1922), Mrs. Dalloway (1925), The Common Reader (1925 - Primeiro volume), To the Lighthouse (1927), Orlando: A Biography (1928), A Room of One's Own (1929), The Waves (1931), The Common Reader (1932 - Segundo volume), Flush: A Biography (1933), The Years (1937), Roger Fry (1940), Between the Acts (1941), Contos Completos (1917-1941)...