sexta-feira, 3 de junho de 2011

Manual da Paixão Solitária - (Sobre Moacyr Scliar)


Moacyr Scliar, vasto acervo a ser explorado!


Perguntem-me se posso prescindir da escrita e digo não.  Se posso ler tudo que devo e a resposta será a mesma. Aliás, não leio nem na medida que devia e, quando leio, o faço de forma sistemática e sucinta, rápida, querendo livrar-me do enfado da obrigação que me imponho, salvo raras exceções onde a trama me prende até que meus olhos não aguentem mais.  Sou um leitor preguiçoso que se apaixonou pelas palavras; um apaixonado com preguiça de ir à casa da amada, por que esta fica longe...
Mas mesmo desse defeito se abstrai uma virtude. Pode-se até criar-se aqui uma frase de efeito: De todo defeito abstrai-se uma virtude!  Eis que, lendo desleixadamente, inculcando tal pecado aos que na vida me conhecem, acabo por naturalmente selecionar minhas leituras, uma seleção natural talvez nunca sonhada por Darwin.
Vejam, apenas comecei a “prosear” e já se pode identificar uma das minhas poucas, mas definitivas, características: Sou um leitor preguiçoso, logo, um pretendente a jamais tornar-me um escritor.
Cheio de defeitos e dúvidas de grafia, envergonha-me ainda, além do desconhecimento da minha Língua amada, o de personagens importantes de sua história; um deles estava em meu quintal, é o de conhecer de Moacyr Scliar apenas sua face de “contista gaúcho”, ignorando, volto a frisar, por preguiça, sua bastante e diversa obra.
Mas como esse blog tem tão-somente a pretensão de acariciar minha vaidade e ver publicado o que me passa às mãos, então, me auto-abjuro e de sacrílego confesso ponho-me a pagar a penitência que meu pecado capital imputou-me.
Nas páginas centrais da Revista Língua no. 66, de Abril de 2011, Luiz Costa Pereira Junior define Moacyr Scliar como um escritor “vulcânico” destacando os seus mais de 70 livros publicados, traduzidos em 12 idiomas, desde 1962 até a sua morte em fevereiro deste ano, em Porto Alegre; comenta o seu ingresso na ABL, em 2003, o que por si só, e aqui vai uma opinião pessoalíssima,  não garante a grandiosidade do escritor, e, logo em seguida, Pereira Junior (com a irritante falta do acento no u, irritação a la “Mario” Quintana e Érico “Verissimo”) destaca também suas mais recentes obras premiadas; uma, 4 anos antes de seu ingresso na Academia (A Mulher que Escreveu a Bíblia), premiado com o Prêmio Jabuti de 2000, e outro romance mais recente, Manual da Paixão Solitária (2009), também premiado com o mesmo honrado prêmio, acredito eu, em 2010. Completa o perfil de Scliar citando sua ascendência russa e judaica e depois leves pinceladas psicológicas para fechar o entendimento sobre as influências que sofreu e a magnificência com que elaborou seu vasto acervo. Tudo isso foi dito, não necessariamente nessa ordem. Uma breve descrição da trama de “A Mulher que Escreveu a Bíblia” e adentramos em um trecho destacado da página 41 deste romance. O articulista esmiúça então, em observações à margem, a técnica finíssima utilizada pelo autor na construção da personagem central do romance que corrobora com o adjetivo elogioso usado no início do artigo, “vulcânico”, e tudo que desfia a seguir....  Bem, ciente de meu pecado, paro por aqui. É o máximo a que me atrevo: Instigar o leitor desse blog a ir atrás, primeiro da leitura da publicação dessa conceituada revista e, em seguida, ir atrás da leitura dos inúmeros romances deste maravilhoso autor gaúcho infelizmente recém falecido; mas advirto: Entrem na fila atrás de mim! (... e não pensem gracinhas...)