segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NOBEL DE JOSÉ SARAMAGO - 15 ANOS

Parece que foi ontem, mas já se passaram quinze anos que o escritor português José Saramago recebeu o Nobel de Literatura. Os nossos patrícios, orgulhosos, na Casa dos Bicos, festejam o 15º aniversário do primeiro Nobel da literatura atribuido a um autor de Língua Portuguesa.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O ETERNO AMARGOR DO AMOR



Passou-se rápido, um clarão. O olhar não media a mensagem e a visão não acreditava o que via. Uma simples postagem no dia de seu aniversário e veio a tona toda uma gama de sentimentos, um amor que tinha certeza: Havia acabado! Triste constatação. Aquele sentimento que me fez emagrecer, adoecer, trincar os dentes, sentir raiva e pena, ainda estava lá, intacto. Um amor que ofendia, destratava, se engrandecia ao humilhar-me, continuava depois de tanto tempo ativo e deixou-me assim hoje, como nesta foto durante o martírio que foi a despedida. Nem tão magro, nem tão depressivo, mas ainda tocado, ainda magoado. Nada tem a ver com o objetivo do blog, nada a ver com literatura, mas essa sensação de que a "coisa" não acaba tem um quê de permissividade, de falta de orgulho, "de bom, meu coração negou-me a paz, de carinhoso, deixou-se levar por levianas certezas e verdades"... assim!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

QUE TODOS OS DIAS SEJAM DIAS DE AMOR

Carlos Drummond de Andrade
 
João Brandão pergunta, propõe e decreta:
Se há o Dia dos Namorados, por que não haver o Dia dos Amorosos, o Dia dos Amadores, o Dia dos Amantes? Com todo o fogo desta última palavra, que circula entre o carnal e o sublime?
E o Dia dos Amantes Exemplares e o Dia dos Amantes Platônicos, que também são exemplares à sua maneira, e dizem até que mais?
Por que não instituir, ó psicólogos, ó sociólogos, ó lojistas e publicitários, o Dia do Amor?
O Dia de Fazê-lo, o Dia de Agradecer-lhe, o de Meditá-lo em tudo que encerra de mistério e grandeza, o Dia de Amá-lo? Pois o Amor se desperdiça ou é incompreendido até por aqueles que amam e não sabem, pobrezinhos, como é essencial amar o Amor.
E mais o Dia do Amor Tranqüilo, tão raro e vestido de linho alvo, o Dia do Amor Violento, o Dia do Amor Que Não Ousava Dizer o Seu Nome Mas Agora Ousa, na arrebentação geral do século?
Amor Complicado pede o seu Dia, não para tornar-se pedestre, mas para requintar em sua complicação cheia de vôos fora do horário e da visibilidade. Amor à Primeira Vista, o fulminante, bem que gostava de ter o seu, cortado de relâmpagos. E há motivos de sobra para se estabelecer o Dia do Amor ao Próximo, e o Próximo somos nós, quando nos esquecemos de nós mesmos, abjurando o enfezadíssimo Amor-Próprio.
Depressa, amigos criadores de Dias, criai o do Amor Livre, entendido como tal o que desata as correntes do interesse imediato, da discriminação racial e económica, ri das divisões políticas, das crenças separatórias, e planta o seu estandarte no cimo da cordilheira mais alta. Livre até no impulso egoístico da correspondência geométrica. Amor que nem a si mesmo se escraviza, na total doação que é converter-se no alvo, pois lá diz o que sabe: «Transforma-se o amador na coisa amada.»
Haja também um Dia para o Amor Não Correspondido, em que ele se console e crie alento para perseverar, se esta é a sua condição fatal, melhor direi, a sua graça. Pois todo Amor tem o seu ponto de luz, que às vezes se confunde com a sombra.

O Amor Impossível, exatamente por sua impossibilidade, merece a compensação de um Dia. Concederemos outro ao Amor Perfeito, que não precisa de mais, mergulhado que está na eternidade, a mover os sóis, independentemente da astrofísica. Ao Amor Imperfeito, síntese muito humana de tantos, retrato mal copiado do modelo divino, igualmente, se consagre um Dia generoso.
Amor à Glória não carece ter Dia, nem Amor ao Dinheiro e seu primo (ou irmão) Amor ao Poder. Eles se satisfazem, o primeiro com uma bolha de sabão, os outros dois com a mesa posta. Mas ao Amor faminto e sem talher, e ao que nenhuma iguaria lhe satisfaz, porque sua fome vai além dos alimentos e é a fome em si, a ansiosa procura do que não existe nem pode existir: um Dia para cada um.

E se mais Dias sobrarem, que sejam reservados para os Amores de que não me lembro no momento mas certamente existem, pois sendo o Amor infinito em sua finitude, isto é, fugindo ao tempo no tempo, e multiplicando-se em invenções, sutilezas, desvarios, enigmas e tudo mais, sempre haverá um Amor novo no sujeito amante, dentro do Amor que nele pousou e que cada manhã nasce outra vez, de sorte que o mesmo Amor é cada dia Outro sem deixar de ser o Antigo, e são muitos outros concentrados e não compendiados na potencialidade de amar. Assim sendo, recomendo e requeiro e decreto que todos os dias do ano sejam Dias do Amor, e não mais disso ou daquilo, como erradamente se convencionou e precisa ser corrigido. Tenho dito. Cumpra-se.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Poder Ultrajovem'


Nota:
 
Drummond merecia uma publicação e, embora esteja tão atordoado com o que está acontecendo,  acontece e deixa de acontecer, tive a felicidade de ver a publicação do Citador português. E a cultura portuguesa, dos nossos irmãos lusos, prescinde de vaidade. Enaltece e declara toda a qualidade dos autores brasileiros. E, "como não me faço de rogado" quando o tema é o amor, ei-lo nas palavras dele, nosso amado itabirano... Aprovveitem, meus 14 seguidores do PALAVRA ESCRITA!




quinta-feira, 18 de abril de 2013

O MISTÉRIO DA ESTRADA DE SINTRA - EÇA DE QUEIRÓS


"Perguntou-me se queria jantar. Conquanto lhe respondesse negativamente, ele abriu uma mesa, trouxe um cabaz em que havia algumas comidas frias. Bebi apenas um copo de água. Ele comeu. Lentamente, gradualmente, começamos a conversar quase em amizade. Eu sou naturalmente expansivo, o silêncio pesava-me. Ele era instruído, tinha viajado e tinha lido. De repente, pouco depois da uma da noite, sentimos na escada um andar leve e cauteloso, e logo alguém tocar na porta do quarto onde estávamos, O mascarado tinha ao entrar tirado a chave e havia-a guardado no bolso. Erguemo-nos sobressaltados, O cadáver achava-se coberto, O mascarado apagou as luzes. Eu estava aterrado, O silêncio era profundo; ouvia-se apenas(...)"
 — O Mistério da Estrada de Sintra (1870)
 

Estava em casa vendo televisão e inadvertidamente passei por um canal onde o filme O Mistério da Estrada de Sintra estava começando. Sabia já pelo título que se tratava da obra de Eça de Queirós, o surpreendente ficou por conta de estar passando um filme português e, mais ainda, sobre o grande mestre do Realismo lusitano.  Realmente uma surpresa das mais saborosas, pois! Sozinho em casa, passava da meia-noite, silêncio e tempo (uma risadinha interior causada pela incredulidade fez com que me remexesse). Ajeitei-me na cadeira e comecei a saboreá-lo. Estranho. Sou assim, poucos mesmo entenderiam meus especiais prazeres e um deles é certamente este: mergulhar no Século XIX através dos livros (mais comumente) e vez ou outra pela tela do cinema. Salva-se isso da minha vida, já que a solidão parece-me ser a fiel companheira das últimas horas. Aliás, prefiro-a à conviver com tanta gente que fala, fala, fala, pelos cotovelos e não entende patavina de nada. Posto isso, sobre a surpresa do filme, o ambiente perfeito e o assunto tão caro, resta-me por fim falar sobre o filme e também sobre a narrativa onde os protagonistas são os autores da obra (Eça de Queirós e Ramalho Ortigão) e o cenário a sociedade portuguesa do Século XIX com idas e vindas à distante Malta, arquipélogo sob o domínio inglês na época.
 
VAMOS À OBRA E AO FILME

Ramalho Ortigão e Eça de Queirós (António Pedro Cerdeira e Ivo Canelas)
O Mistério da Estrada de Sintra é um romance da autoria conjunta de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão. Foi publicado no Diário de Notícias, de Lisboa, sobre a forma de cartas anônimas, entre 24 de Julho e 27 de Setembro de 1870, recebendo a primeira versão em livro em 1884. É a primeira narrativa de cariz policial da literatura portuguesa. A obra foi adaptada para o cinema em 2007 por Jorge Paixão da Costa.

A história começa com o sequestro de um médico – Dr.*** – e de seu amigo escritor – F... O rapto, realizado por quatro mascarados, ocorre na estrada de Sintra. O Dr.*** e o seu companheiro são levados para uma misteriosa casa, onde se encontrava o cadáver estrangeiro. Sabendo que um deles era médico, os raptores pretendiam verificar se, de facto, o homem estava morto. Entretanto, são surpreendidos pela entrada de um jovem – A.M.C., que viria a esclarecer todo o mistério. Rytmel era, afinal, um oficial britânico que morreu vítima de uma dose excessiva de ópio que lhe dera a amante – condessa de W., prima do mascarado alto. Esta desejava apenas adormecê-lo para confirmar nos seus papéis se ele era ou não amante de uma irlandesa. A condessa de W. era casada com um homem rico que não a fazia feliz. Conhecera Rytmel numa viagem que fizera com o marido e com o primo a Malta. Cármen disputara Rytmel com a condessa. Quando Rytmel lhe anuncia a sua vinda, esta suspeitando do seu namoro com uma outra mulher, Miss Shorn, fica enciumada e mata-o involuntariamente.
A.M.C., estudante de Coimbra, honesto e provinciano, ouviu as confidências da condessa e dispôs-se a ajudá-la na noite do falecimento de Rytmel, em que a encontrara desvairada e nervosa. Quando volta ao local do crime, a pedido da condessa, encontra os bandidos, o médico e o seu amigo. Todos juntos julgariam a atitude da condessa e fariam o enterro do pobre inglês. Luísa acaba por se isolar num convento.
SOBRE O FILME
Verão de 1870. Dois escritores, Eça (Ivo Canelas) e Ramalho (António Cerdeira). Ramalho é raptado. O desafio está lançado. Escrever um policial a quatro mãos para o Diário de Notícias. Será que a história que criaram como ficção é baseada num caso real? Esta é a pergunta que sustenta o conflito entre estes dois escritores, e os afasta num duelo quase mortal entre Sintra e Malta. O folhetim avança e com ele ameaças, duelos, sexo e intrigas. Lisboa está em alvoroço. Todos se tomam pelo conde atraiçoado. Os crimes sucedem-se numa história onde o amor é mais forte do que a tradição, a intriga escapa às evidências e tudo corre freneticamente, como num jogo.
 O Mistério da Estrada de Sintra desafia todas as convenções numa acutilante crítica de costumes à romântica sociedade portuguesa do séc. XIX.
Ficha Técnica:
Realização: Jorge Paixão da Costa
 Argumento: Jorge Paixão da Costa, Newton Cannito e Tiago Borralho
 Produtor: A. da Cunha Telles, Pandora da Cunha Telles, Roberto d’Avila e Patrick Siaretta
 Género: Aventura
 Duração: 115’
 Elenco:
 Ivo Canelas (Eça de Queirós)
 António Cerdeira (Ramalho Ortigão)
 Bruna Di Tullio (Condessa de Valadas)
 Rogério Samora (Conde de Valadas)
 José Pedro Vasconcelos (Primo Vasco)
 Gisele Itié (Carmen Puebla)
 Flávio Galvão (Nicázio Puebla)
 James Weber-Brown (Capitão Rytmel)
 Nicolau Breyner (Eduardo Coelho)
 
Prêmios:
 Globos de Ouro, Portugal (2008) – Melhor Actor (Ivo Canelas)
 Detective Fest, Rússia (2008) – Melhor Filme
Nomeações:
 Festival de Gramado, Brasil (2008) – Competição Internacional
 Chicago Latino Film Festival, EUA (2008)
 
 
 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

FLORBELA ESPANCA PELA VOZ DE MIGUEL FALABELLA - A VOLTA

Sem dúvida, emocionante. Tinha que ser assim, a primeira publicação minha depois de muito tempo; continuo taciturno e cada vez mais misantropo. É um desajuste que só ganha corpo. Gente demais, falando demais e ouvindo pouco. Antes, meu leitores, fugia da solidão, hoje tenho, por ela, admiração. E assim, nessa forma cada vez mais robusta retome com fervor o Palavra Escrita e faça dele novamente um hábito. Sorte minha e azar vosso! Curtam então, o que vale a pena ouvir!