quarta-feira, 20 de junho de 2012

MACHADO DE ASSIS - O BRUXO DO COSME VELHO

José Maria MACHADO DE ASSIS
Ao longo do tempo, Machado de Assis tem sido o escritor mais estudado da literatura brasileira. Embora ele tenha falecido há mais de cem anos, a sua obra continua fascinando as novas gerações, que leem seus livros como se eles tivessem sido publicados na véspera. Dono de um estilo inconfundível e admirável, Joaquim Maria chega ao século XXI mais atual do que nunca. Odiado por uns e amado por muitos, o autor de Dom Casmurro permanece quase como um “acidente” em nossa literatura. De origem muito humilde, “obscuro, artista anônimo, tipógrafo, depois revisor de provas, depois noticiarista, depois cronista, folhetinista e poeta, depois chefe incontestado da literatura brasileira. Apenas isto: uma reputação nacional, feita a pouco e pouco, passo a passo, dia a dia, na modéstia, na perseverança e no trabalho para o pão de cada dia, e no estudo e no esforço nobre para conquista do saber e da glória”. Assim Lúcio de Mendonça descreve o amigo, defendendo-o contra acusações de Diocleciano Mártir, que denunciou Machado como um dos inimigos da República! São casos como este e muitas outras anedotas e curiosidades ligadas ao “bruxo do Cosme Velho” que o autor nos revela neste livro delicioso, escrito numa linguagem simples e agradável, indispensável não só a estudantes de Letras, mas a todos interessados na obra do grande mestre. Enfim, acabamos descobrindo uma nova face do escritor que diziam viver escondido como um caramujo: um homem apaixonado pela vida, pelos seus semelhantes e pelo seu tempo.


 (Sinopse do livro Memorial do Bruxo - Conhecendo Machado de Assis, de José Antonio Martino)





Há pouco escrevi sobre a vida e a obra de Virgínia Woolf, escritora inglesa de enorme prestígio e sucesso e consegui esboçar-lhe o perfil intercalando sua vida e obra. Não li nada dela que não fosse o estritamente necessário para, como disse, traçar-lhe o perfil, incentivando assim o leitor do blog a lê-la. Fiz isso baseando-me exclusivamente em um filme que vi em 2002 e dos resumos que coletei aqui e ali. Já com Machado de Assis a história é outra. Na minha juventude, não muito distante, li A Mão e a Luva. Depois, nada mais. Esse romance, o segundo dele, escrito em 1874, dois anos após Ressureição, tinha-me deixado na memória a semente da poética romântica, do lirismo contido nos personagens românticos do Século XIX, mesmo sem ter-me dado conta disso. Aos púberes quatorze anos, não tinha senão arroubos de grandeza e força e todos os meus esforços estavam a serviço de impressionar o sexo oposto; sabia que essa história de sentimento e sensibilidade traría-me apenas dissabores. Mas era um romântico em potencial naquela época e esse livro ficou gravado como a representação do tipo de homem que queria ser: educado, honrado, sensível, dedicado ao sentimento e ao amor. Era toda aquela aura primorosa do cavalheirismo romântico que o continha que me seduzia. E estava presente em A Mão e a Luva. Trinta e dois anos mais tarde, essa verve romanesca se manifestou. Ao ler Goethe, desencadeou-se tudo isso. Então, Machado de Assis foi o primeiro.
Obviamente, para quem conhece um pouco da história da literatura, sabe que A Mão e a Luva pertence à primeira fase de Machado de Assis, que mais tarde seria influenciado pelo que os críticos definem como a fase parnasiano-realista. Não vou castigar o leitor com mais uma biografia, apenas destaco como a crítica o definia, uma razoável ideia de como era o "homem" e  "escritor" Machado de Assis.


Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

Então, amados leitores, para poupá-los de muita leitura, deixo-os com três vídeos sobre a obra e vida de Machado de Assis e ao largo sua biografia, caso a queiram ler. Mais além, alguns trechos de seus mais importantes romances, ao meu gosto, pois é muito difícil selecionar o que escreveu e uma audácia desses que vos escreve, um soneto meu em parceria com o Machadinho. O documentário foi veiculado pela TV Senado. Assistam aos três episódios:
UM DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA DO BRUXO











DO MORRO DO LIVRAMENTO À PRESIDÊNCIA DA ABL

Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando. Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade Lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.

Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada (onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.

Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.

Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.
Carolina Augusta Xavier

Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.

Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.

Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.

No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.


Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original, pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas - que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Machado de Assis (2º da esq. sentado) e os Imortais da ABL
Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a ideia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a ideia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.
Academia Brasileira de Letras
É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.



Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.


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