sábado, 16 de junho de 2012

POBRES SÃO OS QUE NÃO LEEM WILLIAM SHAKESPEARE

O escritor da vez, nessa sábado que ensaia uma reação e que o gosto amargo na boca contradiz, é Shakespeare. Tenho essas ideias durante a madrugada. Falei da Virgínia Woolf, a escritora inglesa, e da poetisa portuguesa Florbela Espanca e a vida "miserável", que ambas tiveram, na noite passada, e apareceu uma citação da Virgínia no meio dizendo sentir pena dos "pobres" que não leem Shakespeare."Embora raramente permeável ao amor pela humanidade, às vezes tenho pena dos pobres que não leem Shakespeare.", disse ela. Aí pensei em uni-los e  se ele, a exemplo de ambas, também teve uma vida tumultuada. Shakespeare, o dramaturgo, ao que parece, não teve. Suas obras não eram impulsionadas pela realidade pessoal caótica, pelos dramas existenciais, mas sim por uma compreensão maior, um entendimento quase que perfeito da natureza humana e sua face pecadora. Em sua obra, quase todos os "pecados capitais" desfilam em fila indiana. Então me permitam, vou desenvolver melhor esse "conceito" que a insônia desalmada me traz. Antes, porém, uma explicação: Ao misturar Virgínia Woolf e Florbela Espanca e Shakespeare, quero provar que a motivação, a inspiração destes três personagens históricos se manifestaram de forma distinta em suas obras, nas duas primeiras através de uma sensibilidade extrema e depressiva e na última de uma forma diferente, mas não menos intensa. Para isso, vamos primeiramente situar o bardo inglês. Shakespeare por excelência é incomparável a qualquer escritor, poeta ou dramaturgo  e se, por ventura o for, somente pode sê-lo em grandeza, com, digamos, Luís Vaz de Camões? A comparação aqui, possível entre Virgínia e Florbela, somente é cabível na análise que estou propondo: o ponto de vista motivacional. O que os movia, o que os inspirava? E se na obra de Shakespeare, realidade e ficção se misturaram e esses sinais são identificáveis nela. Só (tudo) isso... Vamos focar então no dramaturgo e poeta William Shakespeare. 
William Shakespeare (1564- 1616)  foi um poeta e dramaturgo inglês e é tido como o maior escritor da língua inglesa e o mais influente dramaturgo do mundo. O Bardo, como era frequentemente chamado, deixou como obra 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e diversos outros poemas. Suas peças foram traduzidas para os principais idiomas do globo, e são encenadas mais do que as de qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com frequência pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Entre suas obras mais conhecidas estão Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência, e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that's the question (Ser ou não ser, eis a questão). O que quero destacar aqui não é a sua grandiosidade, que é inquestionável, mas se havia nele traços depressivos e se eles inspiraram suas "tragédias". E a resposta não é lá muito longa. Para isso, uma reportagem investigativa teria que ser feita, tendo em vista que viveu quase 300 anos antes das "moças" supra descritas e, por conseguinte, dados precisos sobre sua vida são em muitos pontos impossíveis. Teorias tomam muitas vezes o lugar dos fatos. De fato mesmo é que Shakespeare produziu a maior parte de sua obra entre 1590 e 1613. Suas primeiras peças eram principalmente comédias e obras baseadas em eventos e personagens históricos, gêneros que ele levou ao ápice da sofisticação e do talento artístico ao fim do século XVI. Vejam que em uma primeira "fase" Shakespeare escrevia comédias e obras de conteúdo histórico. Li certa vez "Muito Barulho por Nada", uma dessas comédias e realmente era hilária. Recentemente assisti ao filme protagonizado por Denzel Washington, que, confesso, não honra a obra shakespeariana. Shakespeare merece intérpretes britânicos... Voltando ao foco, daí, dele ter inicialmente escrito "comédias" da à sua personalidade, inicialmente, um certo desprendimento, irreverência e presença de espírito e esses não são indícios de uma alma confusa e melancólica. Como disse, inicialmente.  A partir de então, em meados do Século XVII a coisa começa a ficar séria.  Escreve apenas tragédias até por volta de 1608, incluindo Hamlet, Rei Lear e Macbeth, consideradas algumas das obras mais importantes na língua inglesa. Na sua última fase, aparentemente mais acomodado, escreveu um conjunto de peças classificadas como tragicomédias ou romances, e colaborou com outros dramaturgos. Apenas como informação biográfica, que à minha tese pouco acrescenta, cabe destacar que, diversas de suas peças foram publicadas, em edições com variados graus de qualidade e precisão, durante sua vida. Em 1623 dois de seus antigos colegas de teatro publicaram o chamado First Folio, uma coletânea de suas obras dramáticas que incluía todas as peças (com a exceção de duas) reconhecidas atualmente como sendo de sua autoria. Shakespeare foi um poeta e dramaturgo respeitado em sua própria época, mas sua reputação só viria a atingir o nível em que se encontra hoje no século XIX, época em que despontavam para o mundo Florbela e Virgínia. Logo, a obra do bardo inglês serviu-lhes como inspiração, à Virgínia como dramaturgo e à Florbela como sonetista, creio eu. Notem que tudo isso com certeza só poderia sair mesmo de uma cabeçorra desocupada como a minha e tem notadamente cunho especulativo. No ato final vem a parte mais emocionante, o efeito da obra entre os que vieram depois. Os românticos, especialmente, aclamaram a genialidade de Shakespeare, e os vitorianos idolatraram-no como um herói, com uma reverência que George Bernard Shaw chamava de "bardolatria". Românticos e vitorianos fizeram parte da vida das duas e elas adoravam Shakespeare. Curiosidade apenas. Uma maneira ardilosa de colocar em ligação esses três. No século XX sua obra foi adotada e redescoberta repetidamente por novos movimentos, tanto na academia e quanto na performance. Mas é a migração da primeira fase de Shakespeare para a fase, digamos, mais impactante e importante dele, reconhecida a importância do que foi produzido nela, é que nos interessa: A tragédia! À um olhar leviano, parece que Shakespeare nesse período era um rapaz alegre e que em determinado ponto tornou-se taciturno, crítico, descrente e, trágico. Aparentemente. Não acredito que na época ele fosse influenciado pelo gosto de uma sociedade sedenta por "águas mais profundas" nem por um desejo frívolo de simplesmente mudar.  Afinal era Shakespeare e ele sabia quem era, os gênios sabem. Falar que essa transição fosse fruto de amadurecimento também seria depreciar o que até então havia escrito; talvez, a meu ver, o que tenha acontecido foi uma mescla desses motivos: um apelo do meio pelo "gênero" tragédia, quem sabe em voga, e uma vaidosa busca por desafios maiores e, nesse sentido, a tragédia é intelectualmente mais complexa do que a comédia ou obras de conteúdo histórico. Então, agradar ao público e dar vazão a um desejo incontrolável do intelecto podem ser levados em consideração.  Mas estaria Shakespeare abalado emocionalmente, passando por um drama pessoal que seu intelecto materializou nas suas mais importantes criações? É possível, mas não é provável. A obra de alguém que muda e vai na direção do suicídio, como foram as minhas belas, é marcada por fatalidade e descrença, é fria e soturna, ígnea não pela luz, mas pela paixão devastadora e cruel da decepção com o amor e a vida. Fica estampado no processo criativo. E a impressão, identificável  na obra, é confirmada no ato final, desfalecida em uma cama ou afogada em um rio com pedras nos bolsos do casaco. Skakespeare continuou a sua obra juntando elementos cômicos e críticos à sociedade da época; em suas peças mais eloquentes (Romeu e Julieta, Hamlet e Macbeth) a tragédia vinha acompanhada de denúncia, de avisos às pessoas de como o ser humano pode ser cruel e maquiavélico, como essa "maldade humana" se materializa e como o amor e a virtude libertam. Tudo na trama parece estar em seu perfeito lugar e dá o seu recado. Não há ódio descabido nem tristeza fatal que não com o objetivo primeiro de legitimar e dar "personalidade" dramática à Romeu, Julieta, Hamlet, Otelo, Iago... Já estou exausto, mas a verdade é que não sei se o que é visto nas obras da minha escritora e da minha poetisa (e que intuo terem os genes de um drástico final) que as levaram ao suicídio ou se presumi isso sabendo antecipadamente desse final trágico das suas histórias de vida. E como com Shakespeare não se sabe com certeza as circunstâncias reais dos seus últimos momentos, vejo sua obra dentro de um plano dramático equilibrado. Sobre a morte de Shakespeare, acredita-se que não foi nada tão "dramático", tem até uma boa pitada de comicidade e ironia. Contam que ele estava com uma forte febre e que ao receber a visita de amigos bebeu demais e isso agravou o seu delicado estado de saúde, levando-o à morte. Se existem "teorias" sobre a causa mortis de Shakespeare - e suicídio não consta da lista - então com certeza a relação dele com a sua obra não o levou à depressão e nem a um triste ato final. Até a data de seu nascimento é duvidosa, uns dizem que nasceu em Stratford-upon-Avon em 26 de Abril de 1564 e morreu em 23 de abril de 1616 na mesma cidade; outros afirmam que faleceu em 23 de abril de 1616, mesmo dia de seu nascimento, o que seria coincidente com a história de Florbela que nasceu e morreu no mesmo dia e mês. Mas de qualquer jeito não há indício de que tenha atentado contra a própria vida. Nem que sofresse de qualquer desordem emocional. Não se sabe também dele com exatidão até detalhes sobre sua aparência física, sexualidade, crenças religiosas, e se algumas das obras que lhe são atribuídas teriam sido escritas por outros autores. Alguns estudiosos e pesquisadores até acreditam na hipótese de que Shakespeare não seja realmente o autor das próprias obras. Uma loucura. Bem, na parte que me diz respeito, ao enfoque que quis desenvolver, não há indícios de suicídio, embora se ponha em suspeição muita coisa a respeito desse respeitável gênio. O meu objetivo foi alcançado. Por um motivo secundário e sem valor, digamos, histórico ou literário, falei de três autores, duas mulheres contemporâneas e suas histórias e deixei no campo da especulação a força motriz que "os moveu e demoveu". E soube mais sobre eles... Achavam que iriam escapar? Falta a obra de Virgínia Woolf... 
Depois de todo esse trabalho, de sobremesa os sonetos do Bardo, alguns para minha delícia... e de quem chegou até aqui. Fica pra próxima publicação, hoje ainda. Como disse, estou exausto! E amanhã, tenho certeza que vou achar tudo isso muito incongruente. Mas o tempo passou e o sábado está no fim; o esforço que fiz fez com que esquecesse a minha própria miséria emocional...

Um comentário:

  1. Passei o sábado escrevendo. Precisava. Peguei então o que mais estava a mão e fiz essa salada colocando Shakespeare, Florbela Espanca e Vírgínia Woolf em um mesmo texto. Ainda, insanamente, fiz uma ligação direta entre os três. Peço perdão, pois uma análise séria sobre a obra deles, demandaria uma pesquisa demorada e o que queria mesmo era matar o tempo e... escrever. Pareceu-me cheio de lógica o que escrevi e horas depois, horrorizado, reli. Tentei ainda em vão melhorá-lo, mas quanto mais mexia, mais sem sentido ficava. Mas valeu, ao menos os argumentos obedeceram uma lógica, a biografia de Shakespeare é essa mesma, Virgínia e Florbela se suicidaram uma de sobredose de calmantes e outra afogada em um rio e a depressão teve impacto em suas obras, elas admiravam Shakespeare e eu consegui a distração que precisava. Mas o conjunto deixa a desejar...

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